SÓNETCHKA
Ludmila Ulitskaya


"Sónetchka", que obteve em França o Prémio Médicis para a melhor novela estrangeira, é uma narração subtil sobre o destino de uma mulher comum, através da qual lemos a história da Rússia do século passado: o regime soviético e o seu desmoronamento.


"Na Primavera sai para o cemitério de Vostriakovski, planta na campa do marido flores brancas que nunca chegam a vingar.
Da parte da tarde, pondo os óculos suíços, leves, no nariz de ameixa, mergulha de cabeça nas profundezas suaves, nas alamedas sombreadas e nas águas primaveris."


Sónetchka, uma rapariga judia, confere aos personagens de ficção a mesma categoria que às pessoas. Em Sverdlóvsk, onde trabalha numa biblioteca, conhece o pintor Víktorovitch, que viajou muito pela Europa e cumpriu vários anos de reclusão num campo de trabalho soviético. Seguem-se anos de felicidade conjugal coroada com o nascimento da filha de ambos, Tânia. O interesse de Sónetchka pela literatura desvanece-se; a família, os trabalhos domésticos, ocupam agora a sua vida. Até que um dia tudo se modifica com o aparecimento de Iásia, amiga de Tânia que Sónetchka, movida pelo instinto maternal, convida para que se instale em sua casa, sem suspeitar que se converterá no último amor de Robert Víktorovitch… um amor que será amiúde um surpreendente triângulo amoroso.


Ludmila Ulitskaya nasceu em 1943, no seio de uma família russa judaica da alta burguesia, e foi educada em Moscovo. Formada em Biologia, trabalhou como geneticista até perder o emprego por se ter ocupado em demasia com literatura proibida.
A sua obra inclui peças de teatro e radiofónicas, contos, contos infantis, novelas e romances. Está traduzida em cerca de vinte línguas e em 1996 recebeu em França o Prémio Médicis para a melhor novela com "Sónetchka".
Vive actualmente em Moscovo, no mesmo apartamento que habitou com o primeiro marido, escritor, na então Casa dos Escritores, hoje de paredes forradas com aguarelas do actual marido, o pintor Andrei Krasulin. Costuma dizer que este apartamento é uma das razões pelas quais se tornou escritora: para ter direito a permanecer nele. É uma casa cheia de livros e de memórias – como acontece aliás com muitos dos seus heróis, originários como ela de uma burguesia ilustrada. Apaixonada pela cidade antiga, lamenta a sua destruição às mãos de uma fúria do betão pós-perestroika, isto apesar das leis que protegem os monumentos e que para os novos-ricos de hoje não passam do papel.
Só começou a publicar depois da queda do regime soviético. Não tentou publicar nada antes, mas está convencida de que não teria conseguido. Não que a sua postura fosse anti-soviética, mas porque a ela não lhe interessavam o que as autoridades consideravam importante e vice-versa. Entre o indivíduo e o Estado (oposição que entende estar presente em todos os regimes), defende o ser humano. E a família, a única instituição capaz de salvar o ser humano do igualitarismo.
Não se assume como feminista no sentido que se costuma dar ao termo, mas foram as mulheres, diz, que sempre carregaram o fardo da vida. Nomeadamente na Rússia, que tem uma história de excessos e onde as mulheres assumem sozinhas o encargo de famílias inteiras. Por isso são elas, no seu quotidiano, as personagens centrais da maior parte das suas histórias.


Tradução do russo por Saodat Sayberdieva e Maria Hermínia Brandão.



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